Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Fim de tarde

foto flying to you de António Leão retirada do site olhares


Fim de tarde. A enorme esfera laranja no firmamento, pincela em tons de fogo o mar e céu. Lá mais abaixo eles discutem. As vozes exaltadas chegam-me e escapam-se rasgando a privacidade da praia aparentemente solitária. 
As vozes mentem. Disparam palavras ocas que desfiguram o que as faces mostram. Em vão...tanta palavra gasta em vão, em frases que por si só não dizem nada. Evocam factos que contrariam os sinais dos corpos. 
Afasto-me, não me interessam zangas onde apesar conseguir extrair verdades, não posso interferir. Bastam-me os meus silêncios, a espera absurda na tentativa de saber de ti, de nós. Bastam-me as saudades com que gostas de me vestir, para que me olhe ao espelho e me sinta confortável só com o que é meu. 
Faltam- me o brilho da tua pele, o som da tua voz, a segurança das palavras sensatas com que me presenteias nas tuas presenças. É a tua presença que me falta agora, para a perfeição. Viciaste-me da tua conversa presente. 
Desço até ao mar e molho os pés, sorrio e apercebo-me que fui feliz, irra fui feliz nos momentos que partilhamos, ainda tão próximos na minha pele, e tão salgados como esta água que beija os pés. 
E não quero, não quero vestir a capa, quero continuar a molhar-me em ti ...


Reeditado


5.07.2010

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