Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

*Crónicas de uma terra qualquer* # 5

Foto de Luis Nilton Corrêa retirada do site Olhares


Está velha, a torre. Como velhas estão as paredes deixadas ao abandono por quem se preocupa, hoje mais do que nunca, com as pessoas e os seus problemas de sobrevivência.
No entanto, se faltar ao fim do dia ou àquelas horas em que o movimento da terra se torna mais suave, o som dos sinos a badalarem as horas repetidas a cada 12 horas, parece que uma tristeza que ninguém sabe de onde vem, se abate sobre os dias que as pessoas teimam em fazer diferentes. Mas as pessoas gostam de rotinas. São as rotinas , algumas, que as mantêm ligadas como que por um fio invisível a uma qualquer vida que imaginaram ser a sua. É esse o ofício do relógio da torre. Para além de bater as horas dos dias, bate também no interior de cada um de nós e lembra-nos que estamos em casa. Porque a nossa casa, a nossa terra é construída, constituída, por pequenos pormenores rotineiros que vamos apreendendo como sendo nossos, como pertencendo aos nossos dias, dando-lhes alguma segurança e sobretudo a sensação de pertença.
Mas a torre está velha, mesmo com os sinos a teimarem não perder a sua voz. A torre lembra nestes dias, a tristeza que vai nos olhos de quem passa apressado na rua. As coisas bonitas deixaram de ter tanta importância. Hoje o que preocupa são as bases, o necessário, o incontornável. Desde que vá tocando, já ninguém repara nas paredes velhas a necessitarem pintura, já ninguém quer saber que, se rodeados de maior beleza talvez nos sintamos melhor, nós os que passamos. E é por deixarmos de nos importar com as coisas que nos tornam mais felizes, que nos afundamos em preocupações de sobrevivência em vez de em alegrias de vivência.
A torre está velha, a necessitar de pintura, e todos podem fazê-la brilhar naquele que é o seu lugar, naquela que é a sua função, de novo. Se se lembrarem, que em conjunto, têm mais poder, mais ideias, mais valor, as pessoas da Terra não vão deixar a torre perder a sua beleza.
Juntar forças em tempos de sacrifícios, sempre foi uma regra primordial humana desde os tempos mais remotos, será que ainda nos lembramos desses velhos ensinamentos que aprendemos nos livros de história? Será que ainda sabemos que não é deixando entrar a tristeza, não é deixando cair a beleza, que vamos conseguir manter vivas as torres das nossas terras?

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