sábado, 23 de outubro de 2010
Recordações
O telefone tocou e ela enroscou-se ainda mais nos lençois, como se desejasse que aquele barulho irritante parasse de vez. Mas o telefone não dava mostras de se querer calar. Sem vontade carregou no botão - estou?-
Do outro lado uma voz calma , mansa, de mulher respondeu-lhe. Havia qualquer coisa naquela voz que lhe parecia familiar, como se em milésimos de segundos a sua memória recuasse muitos e muitos anos. Num tubo em espiral passaram imagens há muito perdidas nas páginas passadas do tempo. Caiu exactamente naquele dia em que, entre brincadeiras na rua, onde ambas eram princesas, a chuva daqueles primeiros dias de Outubro começou a cair copiosamente, misturando o cheiros da Terra quente de um Verão ainda tão presente com a pureza da águas que as nuvens deixavam cair anunciando uma nova época. À chuva, ambas de braços abertos a rir, ignoravam as vozes que as chamavam a casa, anunciando o fim das brincadeiras de rua... nesse ano tudo mudou, a mudança de vida dos pais dela levou-a para longe. Nunca mais lhe ouviu a voz ou o riso ou até a cara, e agora ali estava ela com a certeza que do outro lado da linha, ouvia aquela voz, como se a repetição continua das primeiras chuvas de Outono lhe tivessem trazido de volta as memórias. A vida é sempre uma surpresa, e a sua continua suposta repetição pode trazer de volta aqueles que à muito pensamos perdidos ou esquecidos.- " que bom que é ouvir de novo a tua voz !"...
Para a edição de Outubro da Fábrica de Letras
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ali ao lado, turbulenta, se faz favor que do jeito que está fica mal ... e logo na apresentação ...
ResponderEliminarObrigado pelo reparo, tem toda a razão. Assim que puder faço a correção.
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