Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

*Crónicas de uma terra qualquer * # 3

Foto de Guilherme Limas retirada do site olhares


Há terras que nascem ao pé do mar, umas à beirinha, quase que a molhar os pés na água fria e outras mais distantes, mas ainda ouvindo o seu burburinho em dias em que se sente mal-disposto. Mas há outras terras, que embora à beira-mar plantas ficam distantes, para lá dos montes, em beirais semi-fechados aos litorais onde não chega a cor nem a voz do mar.
Era ainda miúda e não pensava que a visão de uma coisa para mim tão natural como as ondas de um mar nesse dia enfurecido, pudessem causar nas expressões tanta surpresa, tanto mistério, tanta paixão. Falantes de uma mesma língua, com diferentes paisagens nos olhos, diferentes experiências de vida, assim eramos nós. Crianças em intercâmbio cultural... e o que é a cultura senão a troca de experiências, de gostos, de vivências, a troca do que a nós nos dizia muito, no pouco que ainda tinhamos visto do mundo e da vida.
Percebi facilmente a expressão do olhar de quem pela primeira vez viu o mar, quando o vi pela primeira vez. Correndo calmo e sereno, deitado no seu leito de paz, adornado pelos verdes sucalcos de onde pequenas bagas nasciam, entre o verde da paisagem, colorindo o horizonte por onde se olhava. E o céu e o verde que parecia descer pelos montes reflectia-se nas águas como se um enorme postal animado de vida se tratasse. E o silêncio, aquele silêncio pautado aqui e ali pelos homens que trabalham a terra, embelezando-a para se ver ao espelho no rio... Chamam-lhe de Ouro, porque não há outro que em si reflita tão mansa e fielmente os lugares valiosos por onde vai passando. Chamam-lhe Douro por que alimenta nas suas margens liquidos preciosos que alimentam um povo.
Ficou-me na memória como a mais preciosa de todas as fotos que guardei na minha mente...É este o grande valor de todos os intercâmbios, dar o que se tem, receber o que outros têm de melhor e guardar como parte da cultura pessoal que vamos alargando ao longo da vida.

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