foto de António Félix retirada do site olhares
No fundo da minha rua há um, um não, dois, dois bancos de jardim. Sempre que por lá passo e que a rapidez ou pressa de viagem me permite, penso naqueles bancos e em como gostava de me poder sentar neles a contemplar a copa da árvore, que lhe faz sombra ou simplesmente o movimento da avenida contígua.
Mas o banco é para os velhos, não para os novos e este é apenas mais um pressuposto que talvez esteja errado. Dantes os velhos não eram velhos, eram anciãos, continham em si todo um saber de experiência feito, de muita coisa vista e vivida, eram tão importantes, quanto importante eram as suas reflexões e o tempo de que disponham para as fazer, uma vez que o corpo já não permitia o esforço físico do trabalho.Hoje sentem-se na grande maioria das vezes impotentes, incapazes até porque a sociedade simplesmente deixou de acreditar no seu saber ou na importância das contemplações.
A sociedade hoje não quer que se pense, quer que se gaste tempo a produzir mecânicamente o que quer que seja, para que as rodas dentadas façam funcionar a máquina que produz dinheiro, mas desfaz os homens, comprimidos que ficam na mecânica da produção.
E os velhos ficam sentados no banco da minha rua e de outras tantas como a minha, olhando o tribunal, onde entram e saem numa azáfama os jovens com os seus fatos de doutores ou as fardas de autoridade, que são os braços de uma justiça mecânica, supostamente igual para todos, mas que é cega e não vê os velhos que pensam que o seu papel está gasto e que já não dá valor ao poder da sua contemplação.
Os carros passam, vai cada um à sua vida atarefada e os velhos ficam, sentados no banco, e eu dava muito do que tenho para poder sentar-me com eles e pensar, ouvir e saber tudo aquilo que vou levar ainda muitos anos a aprender e que só eles me poderiam ensinar se os pudesse ouvir...
Sem comentários:
Enviar um comentário