Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Humanos...

foto de José Manuel Durão retirado do site Olhares

Por vezes as palavras faltam. Ficam presas no qualquer lugar frio e escuro, que imagino como um tubo negro que me percorre as entranhas, até se esvaziar em sopro sem som, que se encolhe ou se expande enquanto o peito se movimenta nos obrigatórios  suspiros de vida. E as palavras, onde ficam? E de que servem palavras, se são gestos como o simples acto de respirar que nos mantêm vivos? E porque não se movem as pessoas? Porque preferem chorar lágrimas de dor e desilusão abraçadas à inércia do muito pensar e nada fazer.
Porque tendemos em correr para o lado oposto daquele que verdadeiramente ambicionamos? porque insistimos em ficar parados quando queremos correr? Porque tanto me questiono em vez de agir? sinto-me em tanta questão, como uma música que vai perdendo o ritmo e a vivacidade. Pretendo transformar palavras em ações, mas os porquês consomem-me. Sinto mas é um sentir distante, como se a sombra de mim mesmo que abandonando o real, se movesse com autonomia, fazendo o que o corpo não faz. Ou tudo não passem de palavras ocas de um coração que ao bater, recente o eco dos que lhe passam próximo, tão próximo que se conseguem baralhar batimentos, ritmos e frequências...
E é em ti... que a rua desemboca em beco, enquanto as perguntas me invadem uma imaginação retorcida e empobrecida. E o belo esplendor da confusão das palavras e perguntas pensadas e faladas mistura-se numa heterogénea sinfonia com as ações tomadas e aquelas que se desejam tomar. E damos a mão ao desconhecido e esquecemos o que ao lado se figura, a sombra que se soltou, a imagem que aparece distorcida no peito... sofremos pelos que estão longe, pelos que estão perto pelos que queremos, pelos estranhos que nos comovem. Abolimos a paz e transformamos em guerra retalhos de amor...amamos e perdemos as palavras algures numa passagem negra, calando gritos de prazer, para não despertar um corpo que nos pode amar e atraiçoar...erramos, acertamos e por isso nos chamam humanos...irmãos...em humilde humus misturados numa terra que só nós podemos fertilizar...

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