Sempre - um tudo ou nada de quase nada: que se pensa ser tudo.
Difícil? sim; com a certeza que nada é certo, tudo se parece com uma outra coisa.
É assim que se recomeça: com uma mão cheia de nada, outra vazia de coisa nenhuma.
Quantos de nós, caíram já no lugar comum do : "quem me dera ter menos anos e saber o tudo que não sabia na altura"; e mesmo sabendo - depois - desejariam não o saber. Há coisas que não se devem saber nunca; que se desejem as coisas boas, deixando esquecidas as que aprendemos por um descuido da sorte ( que adormeceu - malandra - à sombra de uma felicidade inventada).
Nunca é tarde ( é à tarde que o sol sobranceiro se espreguiça na languidez dos dias ) para sonhamos; e cheios das coisas nenhumas da emoção - a que chamamos felicidade - podemos fazer das tardes a parte melhor do dia.
Encontrármos outras partes de nós em conversas - de quem não tem mais do que pedir da vida - e transformar em anedótica retórica as perdas que do corpo saem - em duras horas perdidas para tentar suprimir heranças pesadas - fazem deste mais um ano de todos os ganhos e de todas as perdas ( se um sempre e um tudo vos fizerem, ainda, algum tipo de significado). Mais virão - e outros mais - que farão deste apenas mais um - entre tantos outros- a ser lembrado ou esquecido, conforme a selectiva esperança de se aprender - sempre - mais e mais qualquer coisa.
Sísifo
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
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