segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Só mais um
Difícil? sim; com a certeza que nada é certo, tudo se parece com uma outra coisa.
É assim que se recomeça: com uma mão cheia de nada, outra vazia de coisa nenhuma.
Quantos de nós, caíram já no lugar comum do : "quem me dera ter menos anos e saber o tudo que não sabia na altura"; e mesmo sabendo - depois - desejariam não o saber. Há coisas que não se devem saber nunca; que se desejem as coisas boas, deixando esquecidas as que aprendemos por um descuido da sorte ( que adormeceu - malandra - à sombra de uma felicidade inventada).
Nunca é tarde ( é à tarde que o sol sobranceiro se espreguiça na languidez dos dias ) para sonhamos; e cheios das coisas nenhumas da emoção - a que chamamos felicidade - podemos fazer das tardes a parte melhor do dia.
Encontrármos outras partes de nós em conversas - de quem não tem mais do que pedir da vida - e transformar em anedótica retórica as perdas que do corpo saem - em duras horas perdidas para tentar suprimir heranças pesadas - fazem deste mais um ano de todos os ganhos e de todas as perdas ( se um sempre e um tudo vos fizerem, ainda, algum tipo de significado). Mais virão - e outros mais - que farão deste apenas mais um - entre tantos outros- a ser lembrado ou esquecido, conforme a selectiva esperança de se aprender - sempre - mais e mais qualquer coisa.
Sísifo
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Mudanças
Recebi à pouco uma mensagem de uma amiga, uma mensagem de suposta reflexão a que o Natal nos obriga. Resolvi escrever também qualquer coisa - não um pensamento, não uma reflexão: qualquer coisa.
É por estas alturas que se começam a definir as decisões de novo ano( o síndrome do ano novo, como lhe chamo). Toda a gente se compromete a levar a cabo algumas mudanças (e é disso que me apetece falar, de mudanças).
2010 foi um ano difícil - difícil em termos sociais, difícil a um nível mais privado -, ficamos a saber (com a certeza pouco absoluta que uma economia em desgraça pode dar) aquilo que os Ingleses descobriram há quase um século: somos um país de gente ingovernável - que se governa tentando ter um pouco de esperteza a mais, para passar a perna ao próximo - mas somos também capazes de dar e dar, embarcar em todas as solidariedades e campanhas que nos aparecem (sem sabermos ao certo a sua verdadeira fonte). Pedem-nos para apertar o cinto e nós apertamos - mais e mais até não haver furos no dito ( mas que se lixe, faz-se mais um e ainda se consegue apertar mais um pouco) - enquanto outros ( os mesmos) pouco ou nada alteram a sua condição.
A esperança - essa que mesmo um pouco atordoada - continua a ser a mãe de todas as palavras que nos saltam da boca nesta época festiva: para o ano será melhor (sim será melhor).
É disso que trata o natal, a esperança de que, mesmo com um futuro próximo pouco risonho se vá conseguindo andar ( dá-se daqui, dá-se dali e lá vamos caminhando).Mas são precisas mudanças, mudanças naquilo que é essencial - no fundo pôr cá para fora o que fazemos por dentro de portas -, não dar só por dar, mas exigir que se saiba a quem daremos e o porquê.
Orgulharmo-nos do nosso trabalho, da nossa nacionalidade, do nosso brio - não só colocar defeitos ao trabalho, praticamente igual ao nosso, realizado pelo vizinho do lado.Orgulharmo-nos do que somos , do que produzirmos ( reparou se as suas prendas eram made in portugal? Então repare!) e enviar um sinal claro de baixo para cima - se não têm orgulho das vossas raízes, nós temos!
Porque é disso essencialmente que se trata, olhar para nós como gente, como povo, orgulharmo-nos da nossa diferença, de como conseguimos - com o nosso esforço e capacidade- chegar a algum lado (mesmo que sejam apenas uns metros mais à frente) e tentar, tentar sempre.
2010 foi um ano difícil, de mudanças, mas todas as mudanças têm aspectos bons e aspectos maus.
2011 será um novo ano de mudanças - todos os anos, todos os meses, todas as alturas são boas alturas de o fazer-, mudanças de estrutura, de visão, de atitude, porque nada é eterno e as vacas magras não durarão para sempre se nós as alimentarmos, com paciência, esforço e sabedoria.
Diferente ( mas fiel a mim mesma) só poderia ser algo assim a minha mensagem de Boas festas.
Para todos um feliz e Santo Natal e... comam doces que são uma óptima expressão da nossa Cultura/Portugalidade.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Caixas vazias II
Caixas vazias
Acabara de as empilhar, uma a uma; vazias, todas vazias, quase que se poderiam utilizar como instrumento de percursão - a sonoridade seria, sem sombra de dúvida, boa.
O que fariam ali, guardadas, tantas caixas vazias? Conseguia ainda definir de onde viera cada uma delas, mas era só. Esgotava-se aí, o porquê de manter guardado tanto lixo, com desculpa de recordação - os ditos souvenirs.
Arrancou-lhe um sorriso, a ideia (tão fantásticamente na moda) da reciclagem. Parecia-lhe bem, distribuir cada uma das caixas, por cada amigo que conseguisse rever nelas; mas não era seu feitio fazê-lo.
Olhou-as de novo - em arco-iris de cor e texturas, em confusão de origens - , não passavam de caixas vazias, que o tempo fez perder o significado. No entanto, a ideia de desperdiçar algo, que teria sido importante - numa qualquer altura -, era inconcebível (era como retirar um pouco de si, deitando tudo fora).
Continua...
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Bolas...é Natal!
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
* Crónicas de uma terra qualquer * # 7
A imaginação do Homem aguça-lhe o engenho... até aqui nada de novo. Todos sabemos que os impossíveis são quase sempre alcançáveis, se prolongarmos por tempo suficiente a vontade de chegar a qualquer lado. Júlio Verne chegou à lua ou às profundezas das muitas léguas submarinas, muitos anos antes de um qualquer outro corpo real lá chegar.
E é natal, outra vez... De boca em boca saltitam os mesmos desejos, as mesmas vontades. As ruas teimam em iluminar-se, mesmo sabendo que as economias não reluzem nos bolsos. E sem a luz, que veste do espírito necessário as ruas, o natal não tinha o mesmo significado. Poderia passar despercebido aos olhares dos mais distraídos, ou dos mais desligados das mundanices associadas às épocas festivas.
Este ano, a "nossa" árvore, foi plantada em cima da fonte ( dantes iluminada e com repuxo, agora obrigada a alguma contenção, para que a electricidade não se incomode com a sua presença). Estranha a ideia, para alguns, a mim - de cada vez que lhe ponho a vista em cima - lembra-me a vontade - intriseca ao Homem - de querer sempre realizar os impossíveis. Lá está ela, imponente, bela e iluminada, lembrando que se a vontade assim o desejar, até as mais improváveis misturas poderão ser atingidas, sem curto-circuito.
Fica central, a árvore, iluminando o local com maior movimento- provavelmente- lembrando que até isso, os locais de maior importância, podem sempre ser alterados com a passagem do tempo.
Foi cruzamento, depois rotunda ( com o desnecessário sacrifício da palmeira, que a todo custo tentava crescer no local onde a plantaram) , em seguida fonte luminosa e também rotunda.
Só o Natal não muda, por muito que se tentem suavizar os espíritos. Mesmo em tempos de contenção, as ofertas de consumismo continuam a tentar os bolsos e as mentes, dos que pelas ruas se passeiam. A todo o custo, pretende-se realizar os desejos dos que connosco partilham os dias, mesmo que essa mistura de vontades e possibilidades seja bem mais difícil de atingir, do que a mistura da água com a luz...