Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

sábado, 25 de setembro de 2010

Uma tarde...

                                        Ponte de requeixo - foto de Miguel Afonso retirada do site olhares




Sento-me junto ao rio. O banco parece-me hoje incómodo e o leve fresco que se faz sentir não ajuda a que me sinta mais confortável. Depois da discussão bati a porta com força, tipo cena de filme de qualidade duvidosa e desci as escadas em fúria sem olhar para trás. A raiva que sentia deixava com que grossa lágrimas caíssem em catadupa contra a minha vontade, o que ainda me fazia sentir mais irritada comigo própria. Culpava-me de ter deixado que tudo tivesse chegado àquele ponto. O ponto de não retorno. O ponto em que não há mais a dizer a não ser procurar as culpas que se distribuem inevitavelmente entre os dois lados de uma mesma equação. Não gosto desse ponto.
Não gosto absolutamente de pontos finais, virgulas, pontos e vírgulas e todas essas sinaléticas ridículas, que servem apenas para atrasar a leitura e tentar pontuar algo como se se pudesse ganhar ou perder alguma coisa.
 Um pássaro solitário sobrevoa o céu gritando as suas razões. Invejo-lhe a sorte de puder assim; lançar seu grito, mesmo que cá em baixo não haja ninguém para o ouvir...
Penso em coisas práticas, para me ocupar a mente perturbada com a desilusão. Para onde ir, o que fazer, que rumo dar à minha vida daqui para a frente. Descubro que afinal pode sempre haver vida para além da raiva e das desilusões e que há um sem número de actividades que ainda faltam traçar, na minha lista de coisas a fazer.
Levanto-me , o banco está de facto incómodo e só a paisagem não chega para me animar. Curiosa a luminosidade que atravessa a ponte, neste momento em que a estreita ponte que pensava estar a construir ruiu. Não pretendo lá voltar, não porque pense que sou a dona da razão mas porque sei que calei demasiadas vezes perante as desonestidades para me entregar de novo. Um erro talvez, por certo um novo erro, mas a vida é feita de erros e acertos, de quedas, feridas e tratamentos de corpo e de razões. Mas sobretudo a vida é feita de pontes que nos ajudam a atravessar rios e obstáculos e que se querem fortes, para não ruírem às primeiras tempestades de Inverno...
Aperto o agasalho que consegui trazer e sigo em passo de passeio de Domingo, há tanta coisa bonita por aqui e a cada novo jogo de luz, descubro um pormenor que ainda não tinha reparado. A raiva já não me consome, afinal há lágrimas que sempre ajudam a olhar o mundo de forma diferente...

Sem comentários:

Enviar um comentário