Dizem que tenho Alma de poeta. É possível, mas para além de poeta, sou mulher, fui criança, sou ser humano. Na grande maioria das vezes vejo e sinto coisas que só sei expressar por palavras, por imagens. É um jeito de ser... é o meu jeito de pôr a Alma no scriptum...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Diferente nem sempre quer dizer que é mau

foto de Cristina retirada do site olhares


Adoro fotografia. Esta arte de captar imagens e pará-las no tempo sempre me fascinou. Confesso que nem sempre fui grande fã de arte digital. A manipulação das imagens parecia-me retirar-lhes a veracidade, a pureza de que sou acérrima fã.
No fundo é tudo uma questão de perspectiva. Todos nós trabalhamos, por assim dizer, as imagens que captamos do dia a dia e transformamo-las na nossa mente em algo que caiba no nosso conjunto de valores, de ideais. É assim que vamos proferindo opiniões, criando a nossa própria forma de olhar o mundo que nos rodeia. O título que a autora deu à foto exprime isso mesmo : " diferente nem sempre quer dizer que é mau..." é apenas uma outra forma de olhar o que lá está e pôr a imaginação a transformar a realidade. É isso a criação, a arte. E mudar de opinião é apenas uma forma de alterar a forma como se olha para um determinada objecto ou assunto. Dizem que com o tempo vamos sendo resistentes à mudança. Talvez o segredo de manter a juventude seja exactamente resistir a essa resistência à mudança, tentando sempre reflectir sobre os nossos pontos de vista, não tomar como nossa a certeza dos absolutos verdadeiros, ou a bandeira da razão.
Esta imagem é linda, joga com sombras e com luz, dá-se a sensação de borboleta a uma pequena flor, que parece abrir as asas para voar... Tenho para mim que devem ser assim as nossas opiniões, sempre prontas a transformar uma coisa noutra, baseada em reflexão mais intensa ou não, para se obter a beleza necessária para que a razão tome o seu lugar. Talvez se se reflectisse mais neste país em vez de se querer tomar as honras das certezas racionais, muitas vezes apenas em aparências pouco elaboradas, não teríamos chegado a este quadro tão pouco artístico onde nos encontramos agora. E como se diz numa afamáda rádio : " Se calhar, vale a pena pensar nisto..."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desnudar o essencial

                                                                                 foto retirada do site olhares


Talvez muito de nós se esconda por detrás dos trapos que pensamos usar para chamar a atenção. Talvez o nosso essencial esteja longe , distante daquilo que se vê ou do que pretendemos mostrar. Talvez o nosso eu verdadeiro esteja nos laços que formamos com os outros, iguais, diferentes de outras espécies de outros reinos.
Muito de nós é visível e apetecível, mas a ponta do iceberg esconde o seu verdadeiro corpo, submerso , que se estende para além das asas do possível, por entre mundos que julgamos comandar através dos sonhos. Sonhamos, e transpomos para o dia a dia pálpavél a realização das pequenas partes dos sonhos que consentimos possíveis. E assim vamos construindo dias, tecendo horas com fios que saem lentamente da nossa mente para se materializarem nas roupas que vestimos e mostramos ao mundo.
Não deixar que outros tomem conta daquilo que nos é básico. Não permitir comandos à distância como robots nas mãos de crianças que nos governam, mas tomar esses comandos nas nossas próprias mãos e deixar que seja o nosso sonho a cumprir as realidades que achamos que devem completar os nosso calendário, dar música às nossas estações... e assim alcançarmos o bem comum interior e exterior, a eterna procura, o graal das nossa convicções, a paz.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Bébes

Ontem mostraram-me este trailler de um documentário sobre a vida de 4 bébes nascidos em culturas, locais e condições diferentes. É um documentário de Thomas Balmés e penso que vai estriar esta semana no nosso país.
Fez-me pensar nas várias nuances da educação. Em todos os cuidados e purismos, em todas as teorias que utilizamos e tentamos transpor para a educação dos nossos filhos. Será que é realmente isso que os fará mais felizes? O que é certo e o que é errado? Retirando daqui como é óbvio os maus tratos, a guerra e todos os horrores que muitas crianças ainda sofrem, haverá formulas milagrosas para que tudo seja perfeito? Talvez aqui se mostre que não tanto o como fazemos , mas o que fazemos para os tornar mais felizes seja o mais importante. Que não importa o quanto têm, mas a qualidade do que têm. Que não é uma qualquer virtual esterilidade que os fará mais saudáveis, mas sim a quantidade de amor que lhes proporcionamos,  que não importam anos de vida, mas a vida que lhes colocamos nos anos que farão...
Penso que deve ser de não perder... um retrato da multiculturalidade impressa ao mais frágil de todos os mamíferos enquanto bebé, o Homem.

sábado, 25 de setembro de 2010

Uma tarde...

                                        Ponte de requeixo - foto de Miguel Afonso retirada do site olhares




Sento-me junto ao rio. O banco parece-me hoje incómodo e o leve fresco que se faz sentir não ajuda a que me sinta mais confortável. Depois da discussão bati a porta com força, tipo cena de filme de qualidade duvidosa e desci as escadas em fúria sem olhar para trás. A raiva que sentia deixava com que grossa lágrimas caíssem em catadupa contra a minha vontade, o que ainda me fazia sentir mais irritada comigo própria. Culpava-me de ter deixado que tudo tivesse chegado àquele ponto. O ponto de não retorno. O ponto em que não há mais a dizer a não ser procurar as culpas que se distribuem inevitavelmente entre os dois lados de uma mesma equação. Não gosto desse ponto.
Não gosto absolutamente de pontos finais, virgulas, pontos e vírgulas e todas essas sinaléticas ridículas, que servem apenas para atrasar a leitura e tentar pontuar algo como se se pudesse ganhar ou perder alguma coisa.
 Um pássaro solitário sobrevoa o céu gritando as suas razões. Invejo-lhe a sorte de puder assim; lançar seu grito, mesmo que cá em baixo não haja ninguém para o ouvir...
Penso em coisas práticas, para me ocupar a mente perturbada com a desilusão. Para onde ir, o que fazer, que rumo dar à minha vida daqui para a frente. Descubro que afinal pode sempre haver vida para além da raiva e das desilusões e que há um sem número de actividades que ainda faltam traçar, na minha lista de coisas a fazer.
Levanto-me , o banco está de facto incómodo e só a paisagem não chega para me animar. Curiosa a luminosidade que atravessa a ponte, neste momento em que a estreita ponte que pensava estar a construir ruiu. Não pretendo lá voltar, não porque pense que sou a dona da razão mas porque sei que calei demasiadas vezes perante as desonestidades para me entregar de novo. Um erro talvez, por certo um novo erro, mas a vida é feita de erros e acertos, de quedas, feridas e tratamentos de corpo e de razões. Mas sobretudo a vida é feita de pontes que nos ajudam a atravessar rios e obstáculos e que se querem fortes, para não ruírem às primeiras tempestades de Inverno...
Aperto o agasalho que consegui trazer e sigo em passo de passeio de Domingo, há tanta coisa bonita por aqui e a cada novo jogo de luz, descubro um pormenor que ainda não tinha reparado. A raiva já não me consome, afinal há lágrimas que sempre ajudam a olhar o mundo de forma diferente...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Paisagens

                                                               Foto de Manuel Madeira retirada do site olhares


Da janela por onde posso espreitar vejo o horizonte. No céu as nuvens vão tomando os seus lugares, lembrando que o seu tempo de descanso terminou e que é chegada a hora de voltarem a ser as donas do céu. Discretamente vão diminuindo a luz ao sol, para que todos se apercebam que nem só o sol comanda os céus.
As escarpas mantêm-se nos seus lugares como há séculos, impressionando a vista apenas a quem as vê de novo. Para aqueles que nasceram já com elas no olhar ou que se acostumaram à sua presença diária, não passam de descidas ingremes até ao mar, esse mar infinito que nos pode levar a todo o lado.
Podia dizer-vos que este é também um resumo das nossas vidas. Nem sempre o sol pode brilhar, nem sempre o calor impera e são necessárias as nuvens, derramando aguas e tempestades sobre os nossos dias para que saibamos dar valor ao sol e entre um e outras fazer brotar algo novo dos nossos dias.
As escarpas fazem já parte do que virá, desde o nascimento, mas tudo depende da forma como as olhamos, mesmo que seja por uma primeira vez. Podem impressionar, sim podem, podem até ser altas, perigosas, assustadoras mas não passam de descidas até ao mar, esse mar infinito da imaginação e da vontade, que nos podem levar a todo o lugar.
E é de braços abertos que devemos encarar todas as paisagens, todas as viagens, todos os barcos onde caminham as nossas vontades para novos mares do mundo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Aqui é permitido pensar

                                                                                 Foto de Luna retirada do site olhares

Quase todas as histórias têm um lado bom e um lado mau, ou o herói e o vilão e  mesmo quando assim não acontece, quando são histórias correntes, do dia a dia, da vida do mais comum dos cidadãos tentamos por mais que não haja um lado santo ou pecador, atribuir aos personagens dessas mesmas histórias o papel do bom e do vilão. E à roda das histórias da vida vão-se criando opiniões, discussões e histórias paralelas, alimentando um bolo por vezes amargo outras vezes com efeito tipo bola de neve, que por onde vai passando vai aumentando o tamanho e sendo cada vez mais distruidora e deformada... talvez seja o efeito dos ruidos na comunicação ou apenas essa caracteristica humana de opinar sobre tudo, conjecturar e enfabular, com bons ou maus resultados.
Num país onde se vive uma suposta crise social, e onde muitos só a conseguem perceber porque ao fim do mês as contas são cada vez mais magras e as prateleiras mais vazias, discute-se agora a chegada ou não do papão com nome de fundo internacinal. E é vê-los a fabular, construindo cenários, enquanto a população assiste como se um desenho animado ou um programa de variedades de sucesso se tratasse.
Quase que ao fechar os olhos consigo ver os fervurosos inimigos de uma qualquer padeira nacional, que segundo conta a lenda nos impediu de sermos apenas mais uma provincia dos nossos vizinhos, a bater palmas de contentes, e penso que andamos todos provavelmente com a cabeça na lua e a pisar flocos de neve prestes a sermos engolidos pelo frio glacial...
Fala-se em poupança e gastam-se milhares em produtos de utilização duvidosa para o bem nacional, mas interessante para o bem de algum pessoal ,com certeza competente e com inúmeras necessidades de deslocação, num país com uns míseros 900 Km de norte a sul.
 Penso nas minhas histórias por vezes absurdas, aparentemente sem inicio ou fim, mas que me saem da mente apenas porque ouso pensar que enterterei alguém com o meu palavreado. Pergunto-me se não será exactamente isso que nos andarão a fazer? a enterter, para que cada um possa ir fazendo a sua vidinha, enchendo-se dos prazeres da vida, fechando os olhos áqueles que assumiram proteger quando distribuindo sorrisos nos contaram a mais bela história...
É bom lembrar que nem todas as histórias começam e acabam com os mesmos heróis, há voltas e reviravoltas que todas as histórias podem dar e nenhuma é uma causa perdida até ao último ser vivo existente. É bom lembrar que a força e o poder de decisão está sempre na massa humana anónima, nessa que lê as histórias, que compra os filmes, que dá a força do seu trabalho e que decide quem é que pode ou não contar-nos as histórias e em quais delas vale a pena acreditar.
Porque neste país, e neste manuscrito ainda é permitido pensar...

Monólogo de uma cultura florida



Porque teimas em florir em verdes campos desertos, singela planta comestível, se não é esse teu papel. Porque te embelezas, se na natureza apenas o caldeirão quente dos temperos te espera? 
Germinas em fecunda terra, de agua e sol te alimentas e transformas um reino noutro , sem pedir licença a um Deus para dares vida ao inerte. 
Quem te disse que as flores te transformam em algo que não és? Tu, nutriente enterrado em raizes que pouco mais fazes que chamar a atenção para que te venerem, não percebes que o teu verdadeiro valor se perde em vão, quando é nas fomes que alimentas que tens teu dom.
Perco palavras contigo nobre couve, quando apenas em silêncio me escutas, ignorando meus pensares. E em silêncio permaneces, ornamentada com flores perenes que te alimentam a vaidade e apenas me enchem o olho, quando é verdadeiro o alimento que preciso.


Postado originalmente no minimo ajuste

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Livre ou um tema


Lá fora a máquina de grande porte passa lentamente com o seu apito que marca a marcha lenta. Cada um no seu local, nas suas funções, parecemos uma pequena colmeia ou um nicho de formigas trabalhadoras, cada qual com sua função, cada um no seu exacto local da criação para um qualquer movimento aparentemente sem sentido, mas que vai dando lugar a construções a realizações, a pequenas coisas que juntas se transformam em maiores e vão dando sentidos a cada vida individual formando um todo que sem sentido se transforma em algo maior até para o entendimento de quem pensa comandar alguma coisa.
É engraçado como quem comanda julga puder ter algum valor nas transformações que se vão dando em nosso redor. É mera fantasia. Planos, projectos, podem sempre não correr como foram projectados, depende de quem dá as mãos, a alma e o coração à realização desses mesmos projectos.
É certo que é necessário quem tenha ideias, mas se não houver quem as ponha em pratica não passam de estéreis pensamentos como tantos outros que habitam o colectivo subconsciente das populações.
É esse o grande segredo da liberdade. Somos livres porque não existimos uns sem outros. Sozinhos ficamos presos às nossas limitações, às visões deficientes, que sem partilhas julgamos ideais mas que podem ter muitos vácuos. E enquanto cada um de nós não tiver a verdadeira consciência que somos livres exactamente porque necessitamos de viver em comunidade e de nos misturar, completar nos nossos valores e deficiências, deixaremos sempre que outros decidam por nós , amarrando-nos a cordas invisíveis que nos privarão da liberdade de puder dar o nosso contributo na realização de sonhos e projectos, nossos e dos outros...

" A liberdade nasceu mulher, porquê ?apenas pela sua forma gramatical que poderia ser outra qualquer? Nasceu mulher porque sabe dar e receber. No seu lugar pode comandar ou recuar, sofrer  e chorar, cantar e calar quando as situações assim exigem... Nasceu mulher porque aprendeu cedo que para lutar não é necessário haver guerra..."




Para a edição de Setembro da Fábrica das Letras

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Castelos de palavras


Histórias estão para os adultos como castelos de areia para crianças. Mas nada é definitivo, rígido ou até mesmo verdade universal. Há adultos que gostam de continuar construindo os seus castelos na areia e crianças que vivem inventando histórias. E ainda existem aqueles que inventam as suas próprias histórias fazendo castelos na areia. Dizem que é uma questão de perspectiva, conseguir manter de pé estas construções proporcionais ao tamanho da imaginação. São histórias que as intempéries destroem com facilidade mas que renascem ano após ano, ideia após ideia, história após história. Afinal tudo o que é permanente tem tendência a a ser aborrecido e na natureza tudo se encontra em constante mutação.
Todos nós necessitamos em algum ponto de alguma mudança, evoluindo ou não, mas seguindo em frente levando os nossos sonhos, as nossas histórias e as nossas perspectivas... e para quem não consegue esculpir na areia os sonhos de uma vida, constrói com as palavras castelos de encantar...